quarta-feira, 29 de agosto de 2018

ॐ Satsaṅga de domingo em Campinas à Srī Rāma, o Senhor do Dharma


Śrī Rāma, a personificação dos Valores Universais.


Neste mês de setembro, no Templo Polimata de Campinas, honraremos com muito amor e devoção em nosso satsaṅga dominical (sem a utilização de ervas de poder) a personificação divina do Dharma, dos Valores e da Verdade, o Venerável Śrī Śrī Rāma.

Trata-se da sétima encarnação Śrī Viṣṇu que, sob a ótica mais popular, é conhecido como o mantenedor, e junto à Śrī Brahmā, o criador, e Śrī Śiva, o transformador, forma a Trimurti – a Trindade Suprema do Sanātanadharma.

Dentro da escola filosófica hindu vaiṣṇava, Śrī Bhagavān (o “venerável”, um dos muitos nomes de Śrī Viṣṇu) é a representação máxima de Deus, personificando a misericórdia e a bondade, a onipotência divina que preserva o Universo e mantém a ordem dhármica do cosmos.

As potências da dualidade presentes em nosso universo mantém-se equânimes sob a vontade de Śrī Viṣṇu. Todavia, de tempos em tempos este equilíbrio é desestabilizado e a escuridão obtém vantagem, para que determinados processos possam ser desencadeados, criando a oportunidade para que preciosos ensinamentos sejam manifestados.

Desta forma, enquanto mantenedor do Dharma, o Senhor Sthitikartṛ (“Aquele que estabiliza”) desce à nossa dimensão para restabelecer a ordem como um avatāra (literalmente “aquele que desce”, em sânscrito), uma encarnação divina, conforme mencionado na Bhagavad-Gītā, Capítulo 4, Versos 7:


यदा यदा हि धर्मस्य ग्लानिर्भवति भारत  
अभ्युत्थानमधर्मस्य तदात्मानं सृजाम्यहम् ॥७॥ 

yadā yadā hi dharmasya glāniḥ bhavati bhārata
abhyutthānam adharmasya tadā ātmānam sṛjāmi aham 7

“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e uma ascensão predominante da irreligião – aí, então, Eu próprio faço Meu advento.”

Assim, a cada descida, Śrī Viṣṇu ensina uma lição diferente, relacionada com os motivos que levaram o Homem ao declínio naquele período, nas diferentes yugas (eras): satya (a era de ouro), treta (a era de fogo), dvāpara (a era da dúvida) e kali (a era do revés).

Śrī Rāma (“agradável”, “encantador” ou “aquele que concede o prazer”, em tradução livre), é conhecido como o virtuoso rei de Ayodhya, compassivo e autocontrolado, dotado de excepcional habilidade na arte da arquearia.

Śrī Rāmacandra viveu durante a tretayuga, era no qual inicia-se o declínio da espiritualidade e o incremento do materialismo, porém que também manifesta o conhecimento e o magnetismo universal. Assim, a incumbência daquele que personifica o Dharma é relembrar os valores morais e éticos à humanidade, aos deuses e demônios.

Sua história é narrada, principalmente, nos famosos épicos Rāmāyaṇa e Rāmacaritamānasa, onde, junto à seu valoroso irmão Śrī Lakṣmaṇa (“o afortunado”) e seu fiel devoto e superpoderoso guardião símio Śrī Hanuman (“aquele que possui a mandíbula proeminente”), empreende uma intensa jornada para resgatar sua amada consorte, Śrī Sītā (“aquela que floresce a abundância”, em tradução livre), do cativeiro imposto pelo poderoso asura (demônio) Rāvaṇa (“aquele que ruge”), que conquistou os três mundos – material, espiritual e celestial – em uma série de terríveis campanhas.

Śrī Rāma, acompanhado de seu irmão Śrī Lakṣmaṇa e sua consorte Śrī Sītā e seu maior devoto e amigo Śrī Hanuman.

Portanto, a misericórdia do Senhor da Verdade ilumina a consciência e o coração de seus devotos com a luz dos Valores que norteiam o caminho da transcendência a partir da compaixão e do reto-agir.


Invocações mântricas 

श्री राम
śrī rāma
गायत्री
gāyatrī

ॐ धर्मरूपाय विद्महे
सत्यवीरताय धीमहि ।
तन्नो रामः प्रचोदयात् ॥

auṃ dharmarūpāya vidmahe
satyavīratāya dhīmahi
tanno rāmaḥ pracodayāt


“Contemplamos Aquele que personifica o fluxo do amor universal
Meditamos n’Aquele que é o Senhor da Verdade.
Reverenciamo-nos Àquele que concede o prazer, para que nos ilumine com sabedoria.”

मूलमन्त्र
mūlamantra  (“mantra-base”)

राम

rāma


“Êxtase” (a explicação completa deste mantra pode ser encontrada aqui)


Siga a programação deste programa em nosso evento no Facebook.


Inscrição livre! Dia 02/09, às 15h.

Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!

Todas as Glórias à Śrī Śrī R
āma!

Minhas mais humildes, sinceras e profundas reverências,
                                                                                                                   
Yuri D. Wolf
सङ्कटमोचन

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

ॐ Śrī Jagannātha, Śrī Baladeva e Śrī Subhadrā + Gurupūrṇimā - Celebração Polimata do Amor Universal


Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārājācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavan!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Jagannātha, Śrī Śrī Baladeva e Śrī Śrī Subhadrā!

Śrī Jagannātha à direita, Śrī Baladeva à esquerda e Śrī Subhadrā ao centro.

श्रीगुरुस्तोत्रम्
[fragmento adaptado do] śrīgurustrotam (saudações ao Guru)
गुरुर्ब्रह्मा गुरुर्विष्णुः गुरुर्देवो महेश्वरः ।
गुरु  साक्षात् परंब्रह्म तस्मै श्रीमहासूर्याय नमः ॥

gururbrahmā gururviṣṇuḥ gururdevo maheśvaraḥ
guru sākṣāt paraṃbrahma tasmai śrīmahāsūryāya namaḥ

O guru é Brahmā (o criador), é Viṣṇu (o mantenedor), é Maheśvara (Śiva, o transformador).
O guru é verdadeiramente o Supremo Espírito; reverencias à Śrī Mahāsūrya.

Sua Divina Graça Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī.

Neste mês de agosto, no Templo Polimata, celebraremos em nosso satsaṅga a Gurupūrṇimā junto à Sua Divina Graça Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī, Sumo Grão-Mestre Polimata, em conjunto com a glorificação dos altíssimos Śrī Śrī Jagannātha, Śrī Śrī Baladeva e Śrī Śrī Subhadrā.

A Gurupūrṇimā é o ritual que acontece anualmente dentro das tradições hindu, jainista e budista (principalmente), com o objetivo de enaltecer os grandes professores espirituais, preceptores do amor e do conhecimento divinos.

A palavra sânscrita guru deriva de duas outras palavras: gu, que significa “ignorância, escuridão” e ru, que denota o dissipador desta condição, e a palavra pūrṇimā (“lua cheia”) indica a momento do mês em que o ritual ocorre.

Tradicionalmente, esta homenagem ocorre no mês Āṣāḍha do calendário hindu (junho/julho do calendário gregoriano). Porém, dentro da tradição polimata, a Gurupūrṇimā é festejada no mês de agosto, uma vez que coincide com o ano novo pessoal e a ascensão da maestria de nosso Gurudeva.  As Deidades escolhidas para acompanhar esta celebração, Śrī Jagannātha, Śrī Baladeva e Śrī Subhadrā, são as facetas divinas que regem o caminho espiritual de nosso guru dentro da tradição hindu.

Assim, esta confluência transforma os satsaṅgas de agosto em três eventos absolutamente especiais, que manifestam o amor devocional em todo o seu esplendor.

श्री जगन्नाथाष्टकम्
śrī jagannāthāṣṭakam
(poema devocional de oito estrofes ao Senhor do Universo)

कदाचित् कालिन्दी तट विपिन सङ्गीत तरलो
मुदाभीरी नारी वदन कमला स्वाद मधुपः ।
रमा शम्भु ब्रह्मामरपति गणेशार्चित पदो
जगन्नाथः स्वामी नयनपथगामी भवतु मे ॥१॥

kadācit kālindī-taṭa-vipina-saṅgīta taralo
mudābhīrī-nārī-vadana-kamalāśvāda-madhupaḥ

ramā-śambhu-brahmāmara-pati-gaṇeśārcitta-pado
jagannāthaḥ svāmī nayana-patha-gāmī bhavatu me 
1

Aquele que ocasionalmente toca sua flauta às margens do rio Yamunā em Śrī Vṛndāvana, que é como uma abelha e graciosamente prova as faces de lotus das Vraja-gopīs, e cujos pés são adorados por Śrī Lakṣmī, Śrī Śambhu, Śrī Brahmā, Śrī Indra e Śrī Gaṇeśa. Que o Senhor Jagannātha possa ser objeto de minha visão. (1)

भुजे सव्ये वेणुं शिरसि शिखिपिच्छं कटितटे
दुकूलं नेत्रान्ते सहचर कटाक्षं विदधते ।
सदा श्रीमद्‍ वृन्दावन वसति लीला परिचयो
जगन्नाथः स्वामी नयनपथगामी भवतु मे ॥२॥

bhuje savye veṇuṁ śirasi śikhi-picchaṁ kaṭitaṭe
dukūlaṁ netrānte sahacara-kaṭākṣaṁ vidadhate

sadā śrīmad-vṛndāvana-vasati-līlā-paricayo
jagannāthaḥ svāmī nayana-patha-gāmī bhavatu me 
2

Aquele que segura uma flauta em sua mão esquerda, que adorna sua cabeça com uma pena de pavão e veste-se com um fino tecido de seda amarelo ao redor de sua cintura, que de relance observa amorosamente seus companheiros, e que é para sempre conhecido como Aquele que executa passatempos maravilhosos na morada divina de Śrī Vṛndāvana, que o Senhor Jagannātha possa ser objeto de minha visão. (2)

महाम्भोधेस्तीरे कनक रुचिरे नील शिखरे
वसन् प्रासादान्तः सहज बलभद्रेण बलिना ।
सुभद्रा मध्यस्थः सकलसुर सेवावसरदो
जगन्नाथः स्वामी नयनपथगामी भवतु मे ॥३॥

mahāmbhodhes tīre kanaka-rucire nīla-śikhare
vasan prāsādāntaḥ sahaja-balabhadreṇa balinā

subhadrā-madhya-sthaḥ sakala-sura-sevāvasara-do
jagannāthaḥ svāmī nayana-patha-gāmī bhavatu me
3

Aquele que, na costa do grande oceano, reside em um palácio no topo dourado da colina de Nīlācala, acompanhado de Seu poderoso irmão Baladevajī e, entre eles, Sua irmã Subhadrā, e que concede o privilégio de servi-Lo acima de todos os semideuses, que o Senhor Jagannātha possa ser objeto de minha visão. (3)

कृपा पारावारः सजल जलद श्रेणिरुचिरो
रमा वाणी रामः स्फुरद् अमल पङ्केरुहमुखः ।
सुरेन्द्रैर् आराध्यः श्रुतिगण शिखा गीत चरितो
जगन्नाथः स्वामी नयनपथगामी भवतु मे ॥४॥

kṛpā-pārāvāraḥ sajala-jalada-śreṇi-ruciro
ramā-vāṇī-rāmaḥ sphurad-amala-paṅkeruha-mukhaḥ

surendrair ārādhyaḥ śruti-gaṇa-śikhā-gīta-carito
jagannāthaḥ svāmī nayana-patha-gāmī bhavatu me
4

Aquele que é um oceano de misericórdia, cuja compleição física é, como Śrī Lakṣmī e Śrī  Sarasvatī, tão bela quanto uma fileira de nuvens de chuva enegrecidas. Aquele cujo rosto é uma flor de lótus perfeitamente florescida, e que é adorado pelos semideuses mais importantes, e cujas glórias transcendentais foram cantadas nas escrituras de nível superior. Que o Senhor Jagannātha possa ser objeto de minha visão. (4)

रथारूढो गच्छन् पथि मिलित भूदेव पटलैः
स्तुति प्रादुर्भावम् प्रतिपदमुपाकर्ण्य सदयः ।
दया सिन्धुर्बन्धुः सकल जगतां सिन्धु सुतया
जगन्नाथः स्वामी नयनपथगामी भवतु मे ॥५॥

rathārūḍho gacchan pathi milita-bhūdeva-paṭalaiḥ
stuti-prādurbhāvam prati-padam upākarṇya sadayaḥ

dayā-sindhur bandhuḥ sakala jagatāṁ sindhu-sutayā
jagannāthah svāmī nayana-patha-gāmī bhavatu me
5

Assembleias de brāhmaṇas cantam suas preces a cada passo dado pelo carro do Senhor Jagannātha, quando este segue pela estrada durante o Ratha-Yatra. Ao ouvi-los, sendo o Senhor Jagannātha um oceano de misericórdia e o verdadeiro amigo de todos os mundos, benevolentemente dispõe-Se em favor deles.
Que o Senhor Jagannātha possa ser objeto de minha visão. (5)

परंब्रह्मापीड़ः कुवलय दलोत्‍फुल्ल नयनो
निवासी नीलाद्रौ निहित चरणोऽनन्त शिरसि ।
रसानन्दी राधा सरस वपुरालिङ्गन सुखो
जगन्नाथः स्वामी  नयनपथगामी भवतु मे ॥६॥

paraṁ-brahmāpīḍaḥ kuvalaya-dalotphulla-nayano
nivāsī nīlādrau nihita-caraṇo 'nanta-śirasi

rasānandī rādhā-sarasa-vapur-āliṅgana-sukho
jagannāthaḥ svāmī nayana-patha-gāmī bhavatu me
6

Aquele que é a jóia da coroa da transcendência, que cujos olhos são como pétalas de um lótus florescido, que reside em Nīlachala, cujo pés descansam na cabeça e Sesa; que é abençoadamente imerso em bhakti-rasa e de quem provém a felicidade que envolve o corpo carregado de amor devocional de Śrīmati Rādhikā. Que o Senhor Jagannātha possa ser objeto de minha visão. (6)

न वै याचे राज्यं न च कनक माणिक्य विभवं
न याचेऽहं रम्यां सकल जन काम्यां वरवधूम् ।
सदा काले काले प्रमथ पतिना गीतचरितो
जगन्नाथः स्वामी नयनपथगामी भवतु मे ॥७॥

na vai yāce rājyaṁ na ca kanaka-māṇikya-vibhavaṁ
na yāce 'haṁ ramyāṁ sakala jana-kāmyāṁ vara-vadhūm

sadā kāle kāle pramatha-patinā gīta-carito
jagannāthaḥ svāmī nayana-patha-gāmī bhavatu me
7

Eu não oro ao Senhor Jagannātha por um reino, nem por ouro, jóias, riqueza ou então por uma linda esposa desejada por todos os homens. Minha única prece é para que o Senhor Jagannātha, cujas glórias são constantemente cantadas pelo Senhor dos Pramathas, possa ser objeto de minha visão. (7)

हर त्वं संसारं द्रुततरम् असारं सुरपते
हर त्वं पापानां विततिम् अपरां यादवपते ।
अहो दीनेऽनाथे निहित चरणो निश्चितमिदं
जगन्नाथः स्वामी नयनपथगामी भवतु मे ॥८॥

hara tvaṁ saṁsāraṁ druta-taram asāraṁ sura-pate
hara tvaṁ pāpānāṁ vitatiṁ aparāṁ yādava-pate

aho dīne 'nāthe nihita-caraṇo niścitam idaṁ
jagannāthaḥ svāmī nayana-patha-gāmī bhavatu me 
8

Ó Senhor dos Semideuses! Liberte-me rapidamente desta experiência mundana sem valor. Ó, Senhor dos Yadus! Purifica-me desta morada de ilimitados pecados. Ah! O Senhor prometeu conferir seus pés aos caídos e desabrigados. Que o Senhor Jagannātha possa ser objeto de minha visão. (8)

जगन्नाथाष्टकं पुन्यं यः पठेत् प्रयतः शुचिः ।
सर्वपाप विशुद्धात्मा विष्णुलोकं स गच्छति ॥९॥

jagannāthāṣṭakaṁ punyaṁ yaḥ paṭhet prayataḥ śuciḥ
sarva-pāpa-viśuddhātmā viṣṇu-lokaṁ sa gacchati
9

Aquele que gentilmente recitar este sagrado aṣṭakaṃ do Senhor Jagannātha até tornar-se livre dos pecados e puro de coração, alançará a entrada em
Viṣṇuloka. (9)

॥ इति श्रीमत्शंकराचार्यविरचितं जगन्नाथाष्टकं संपूर्णम् ॥

iti śrimatśaṅkaracāryaviracitaṁ jagannāthāṣṭakam saṁpūrṇam

Isto encerra a oitava stanza do aṣṭakaṃ do Senhor Jagannātha, composto pelo venerável Senhor Śaṅkaracārya.

Śrī Jagannātha, Śrī Baladeva (ou Balabhadra) e Śrī Subhadrā compõem uma trindade celestial que representa a totalidade do universo, enquanto consciência, manifestação e potência, respectivamente.

O Senhor Jagannātha (literalmente “Senhor do Universo”, em sânscrito), é objeto de adoração de tradições budistas e hindus, sendo considerado uma Deidade não-sectária de origem tribal, uma vez que seu culto transcende as divisões das escolas filosóficas presentes nas tradições indianas.

Desta forma, nas escolas vaiṣṇavas, Ele é reconhecido como uma forma abstrata de Śrī Viṣṇu ou Śrī Kṛṣṇa. Para os adeptos de algumas linhagens śaivas e śaktas, Ele é uma representação de Bhairava (“o terrível”), uma manifestação tântrica de Śrī Śiva. E, para algumas tradições budistas, é sincretizado com o próprio Senhor Buddha.

Ademais, ainda que a influência vaiṣṇava seja atualmente predominante no culto ao Senhor Jagannātha, o processo ritualístico executado em Purī – cidade onde está localizado seu mais proeminente templo –  é baseado em uma combinação de práticas originárias de diferentes tradições. Seus sacerdotes são śaktas, e muitos dos mantras e yantras utilizados são de origem tântrica.

A trindade antropomorfizada.
As influências de diferentes escolas são vastas e bastante complexas, e demandam uma segunda postagem sobre o assunto. Aprofundaremos esta abordagem futuramente. Na presente exposição, focaremos na ótica vaiṣṇava.

Há diversas versões sobre o aparecimento do Senhor Jagannātha, desde as múltiplas registradas no conhecimento védico quanto as que indicam o início deste processo devocional por tribos pré-arianas (como os savaras, por exemplo).

Uma das mais famosas está relacionada a um episódio descrito no Skanda Purāṇa, que narra a jornada do rei Indradyumna em busca de uma visão do Senhor Viṣṇu.
Certo dia, um brāhmaṇa chegou ao palácio e despertou a curiosidade do rei ao comentar sobre uma manifestação de Sri Viṣṇu chamada Nīlamadhava (Em sânscrito, nīla = azul e madhava é um nome utilizado em referência à Śrī Kṛṣṇa acerca do passatempo em que o mesmo vence o demônio Madhu). Prontamente, Indradyumna ordena a partida de outros brāhmaṇas para que buscassem pela Deidade.

Vidyāpati, irmão do rei, a localiza em uma pequena vila, fora dos domínios arianos, onde a mesma era secretamente adorada pelo rei local, Viśvavasu. Após insistentes investidas, o mesmo é convencido por Vidyāpati e a este revela Śrī Nīlamadhava.

Ao chegarem ao local onde a Deidade se encontrava, Viśvavasu se retira para colher algumas flores a serem oferecidas à Śrī Nīlamadhava. Lá, Vidyāpati observa um pequeno corvo que se afogar nas águas de um lago próximo, cuja alma imediatamente toma uma forma transcendental e ascende ao mundo espiritual.

Antes que pudesse atirar-se ao lago para também ascender, Vidyāpati é interrompido por uma voz celestial que o ordena a comunicar o achado ao rei Indradyumna. Quando Viśvavasu retorna, Śrī Nīlamadhava fala, manifestando o seu desejo de receber um tipo de adoração mais opulento, que seria provido por Indradyumna.

Vidyāpati então retorna ao reino de Indradyumna que, ao saber do ocorrido, prontamente se dirige ao local indicado por seu irmão.

Todavia, ao chegarem à suposta localização de Śrī Nīlamadhava, percebem o local vazio e acusam Viśvavasu de ter escondido a Deidade. Este, então, tem sua prisão ordenada pelo rei Indradyumna.

Repentinamente, uma voz vinda dos céus intervém dizendo:

“Deixe os criadores de porcos e construa um grande templo para Mim no topo da colina Nīla (“a montanha azul”). Lá, você me verá não como Nīlamadhava, mas em uma forma feita de madeira de Nīm (como Dārubrahman, ou a manifestação do absoluto em madeira).

Manifestar-me-ei em quatro diferentes formas: Jagannātha, Baladeva, Subhadrā e Sudarśana Cakra (o disco de Śrī Viṣṇu, localizado ao topo do atual templo do Senhor Jagannātha). Aguarde nas margens de Cakra Tīrtha e um grande tronco marcado com a concha, o disco, a maça e o lótus emergirá.”

Salão principal do Cakra Tīrtha Mandira, templo erguido onde o tronco original em que as Deidades foram esculpidas chegou pelo mar. Ao centro, enfeitado com flores, a Deidade presidente do templo, Śrī Sudarśana Cakra, cuja personificação é Śrī Nṛsimhadeva.

Indradyumna imediatamente ordena o início da construção do templo e após um longo período de espera, finalmente recebe a madeira sagrada para a confecção das Deidades. Esta, com muito custo é retirada da água e então encaminhada em uma carruagem dourada ao sítio onde o templo havia sido erguido.

Entrada principal do Śrī Puruṣottama Kṣetra.
Śrī Puruṣottama Kṣetra, o famoso templo de Śrī Jagannātha (maior, mais ao fundo), Śrī Baladeva (intermediário) e Śrī Subhadrā (menor, mais à frente), localizados na cidade de Purī.



Após uma série de escultores terem falhado na realização deste trabalho, tendo suas ferramentas destruídas no momento em que estas tocavam a madeira, o próprio Śrī Puruṣottama (um dos nomes de Śrī Viṣṇu, que significa “o mais elevado ser”) manifesta-se como Viśvakarma (o grande arquiteto do Universo) e, disfarçado como um senhor de idade, se apresenta ao rei Indradyumna para esculpir as Deidades, sob a condição de poder trabalhar sozinho, a portas fechadas e sem ser interrompido por 21 dias.

O rei concorda. Porém, o mesmo não controla sua ansiedade e após 14 dias, tenta espiar o trabalho de Viśvakarma. Depara-se então com a sala vazia e as Deidades de Śrī Jagannātha, Śrī Baladeva e Śrī Subhadrā aparentemente inacabadas, sem mãos ou pés.

Ademais, o rei é informado de que o escultor era o próprio Senhor Jagannātha e, devido à quebra de sua promessa, Dārubrahman havia se manifestado daquela forma. Assim, tomado em remorso, Indradyumna decide pôr fim à sua vida.

Na mesma noite, Indradyumna é visitado em sonho pelo Senhor do Universo, que explica não carecer de pés e mãos materiais para receber os itens oferecidos por seus devotos, e que a quebra da promessa por parte do rei é apenas mais uma parte de seus passatempos para que Ele pudesse se manifestar desta maneira.

Portanto, dentro da tradição vaiṣṇava, a trindade formada pelo Senhor Jagannātha, por seu irmão mais velho, o Senhor Baladeva e a Senhora Subhadrā, sua irmã mais nova, carrega um simbolismo de puro amor transcendental, representando o âmago do processo devocional.

O Senhor Jagannātha, do alto de sua absoluta bondade e misericórdia, representa a completude e a perfeição do todo cósmico celestial, que tudo sabe e tudo que é. O Senhor Baladeva (onde bala = força e deva = deus) representa o trabalho dhármico a ser executado dentro do processo devocional, desprovido de apego aos resultados. Por fim, a Senhora Subhadrā (cujo nome pode ser livremente traduzido como ‘gloriosa’) representa o puro amor, que é o combustível para o trabalho dhármico, que leva aquele que neste persiste a alcançar a completude, a realidade última.

Invocações mântricas para o ritual:
गायत्री  
gāyatrī (métrica védica de 24 sílabas, usualmente utilizada na invocação das Deidades)

श्रीजगन्नाथ
śrī jagannātha

ॐ जगथ्पालकाय विद्महे
पुरीप्रदेशय धीमहि ।
तन्नो जगन्नाथः प्रचोदयात् ॥

oṃ jagathpālakāya vidmahe
purī-pradeśāya dhīmahi
tanno jagannāthaḥ pracodayāt

Contemplamos o Guardião do Universo
Meditamos no Senhor da Cidade de Purī.
Reverenciamo-nos ao Senhor do Universo, para que nos ilumine com sabedoria.

श्रीबलदेव
śrī baladeva

ॐ बलदेवय विद्महे
कामपालय धीमहि ।
तन्नो हालः प्रचोदयात् ॥

oṃ baladevāya vidmahe
kāma-pālāya dhīmahi
tanno hālaḥ pracodayāt

Contemplamos o deus da Força,
Meditamos n’Aquele que satisfaz os desejos.
Reverenciamo-nos ao Arador (que assim representa o trabalho dhármico), para que nos ilumine com sabedoria.

श्रीसुभद्रा
śrī subhadrā

ॐ नारायण्यै विद्महे
भुवनेश्वर्यै धीमहि ।
तन्नो हली प्रचोदयात् ॥

oṃ nārāyaṇyai vidmahe
bhuvaneśvaryai dhīmahi
tanno devī pracodayāt

Contemplamos Senhora da Prosperidade,
Meditamos na Soberana dos planos.
Reverenciamo-nos à Deusa, para que nos ilumine com sabedoria.


बीजमन्त्र   
bījamantra (contém a sílaba mística raiz da Deidade – para ser repetido 108 vezes na contagem da japamālā)


श्रीजगन्नाथ
śrī jagannātha

 क्लीं जगन्नाथाय नमः

oṃ klīṃ jagannāthāya namaḥ

Reverências ao Senhor do Universo.

श्रीबलदेव
śrī baladeva

स्रीं बलभद्राय नमः

oṃ srīṃ balabhadrāya namaḥ

Reverencias Àquele que é forte e poderoso.

श्रीसुभद्रा
śrī subhadra

ह्रीं सुभद्रायै नमः
oṃ hrīṃ subhadrāyai namaḥ

Reverências à Gloriosa.

Nossos satsaṅgas com Ayahuasca em à Śrī Jagannātha, Śrī Baladeva e Śrī Subhadrā, também celebrando nossa Gurupūrṇimā Polimata e acontecem nos próximos sábados, dia 11/08, no Templo Polimata de Boituva, em 18/08 no Templo Polimata de Mairiporã e em 25/08, no TemploPolimata de Campinas, a partir das 19h.

No dia 19/08, domingo, teremos a celebração oficial da Gurupūrṇimā Sua Divina Graça Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī. Uma festa de profundo significado e sensibilidade.

Ingressos antecipados no site da Ordem Polimata.

Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārājācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!

Todas as Glórias à
Śrī Śrī Jagannātha, Śrī Śrī Baladeva e Śrī Śrī Subhadrā!

Agradeço com muito carinho à imprescindível contribuição de Filipe Uveda (Metal) na elaboração do presente texto.

Minhas mais humildes, sinceras e profundas reverências,
                                                                                      
Yuri D. Wolf