Neste mês de novembro, no Templo Polimata, celebramos a manifestação
divina sob a forma d’Aquele que tudo permeia: Śrī Viṣṇu.
Śrī Viṣṇu. |
Trata-se de uma das três principais deidades masculinas do panteão
hindu. Sob a ótica mais popular, é conhecido como o mantenedor, junto à Śrī Brahmā,
o criador, e Śrī Śiva, o destruidor/renovador, forma a Trimurti – a trindade suprema
do Sanātanadharma.
Dentro da escola filosófica vaiṣṇava,
é a representação máxima de Deus, personificando a misericórdia e a bondade, a
onipotência Divina que preserva o Universo e mantém a ordem dhármica do cosmos.
Śrī Bhagavān (“afortunado”, aquele que possui os seis atributos:
domínio, poder, glória, esplendor, sabedoria e renúncia) é usualmente retratado
com quatro braços, que representam sua onipresença, onipotência e onisciência
nas quatro direções. Assim, seus membros anteriores representam sua ação no
mundo material e os posteriores no mundo espiritual, e também representam os
quatro Vedas (Ṛg, Sāma, Yajur e Atharva), a síntese do conhecimento absoluto
universal.
Em cada uma de suas mãos, Śrī Viṣṇu segura os atributos-chefe de sua
grandeza (a ordem dos atributos varia considerando diferentes arquétipos):
-
Padma (lótus): a flor, usualmente segurada por Śrī Viṣṇu
em abhayamudrā (gesto manual que concede a bênção do destemor), representa a beleza
Divina, a pureza, a liberação espiritual face ao enredamento material. O
desabrochar do lótus à luz do Sol é uma analogia ao florescer da consciência no
indivíduo, quando este desperta ao se aproximar de Deus.
-
Kaumodakī Gadā (maça): a “clava que confere a
felicidade à Terra”, elimina o sofrimento da ignorância refletindo a opulência
do Divino através de Seu intelecto cósmico primordial, fonte de toda a força
física, mental e espiritual.
-
Pāñcajanya Śaṅkha (búzio): representa o poder criativo
de Deus, a primeira manifestação articulada de linguagem do Universo, o som auṃ:
a mais elevada frequência vibracional cósmica, condensada em uma só sílaba, que
origina todas as formas universais.
-
Sudarśana Cakra (disco): “a roda da visão superior”,
representa purificação e a espiritualização da mente dentro do processo de
autorrealização da alma. É a destruição Divina do falso ego, da ilusão e da
ignorância, que permite o desenvolvimento da visão espiritual, e que culmina
com a visualização de Deus; objetifica a Suprema Invencibilidade do Dharma.
Sua pele em tom azulado é uma referência à Sua natureza infinita e que
tudo permeia, em uma analogia à cor do céu.
Suas vestes amarelo-ouro representam os pertences de Sua consorte, Śrī
Lakṣmī, a personificação da matéria. Também simbolizam os Vedas, como os raios
de Sol dourados que irradiam felicidade, energia, êxtase, e que iluminam o
intelecto.
Śrī Viṣṇu monta Śrī Garuḍa, a águia celestial, que exprime grande força,
poder e misericórdia, e que supera os sentidos, usualmente representados pelas
cobras. A simbologia da águia refere-se a jīva (alma inividual) carregando
consigo paramātma (a Superalma), que
é Śrī Vāsudeva (“Aquele que habita a todos”), presente em todas as criaturas.
Śrī Viṣṇu montado em Śrī Garuḍa. |
Enquanto Śrī Nārāyaṇa (“o homem primordial”, ou “Aquele que repousa
sobre as águas”), repousa em Anantaśeṣa (a “serpente eterna”) sobre kāraṇārṇava, o oceano causal. Assim, por
montar uma águia e apoiar-se sobre uma serpente, animais tidos como inimigos naturais,
o Senhor Viṣṇu também é a imagem do equilíbrio perfeito, que triunfa ante a destruição,
dissolvendo a inimizade.
Śrī Nārāyaṇa com Śrī Lakṣmi aos seus pés Śrī Brahmā brotando de seu umbigo de lótus. |
As potências da dualidade presente em nosso universo mantém-se equânimes sob a vontade de Śrī Viṣṇu. Todavia, de tempos em tempos este equilíbrio é desestabilizado e a escuridão obtém vantagem, para que determinados processos possam ser desencadeados.
Desta forma, enquanto mantenedor do Dharma, o Senhor Sthitikartṛ (“Aquele
que estabiliza”) desce à nossa
dimensão para restabelecer a ordem como um avatāra
(literalmente “aquele que desce”), uma encarnação divina, conforme mencionado
no Bhagavad-Gītā, Capítulo 4, Versos 7:
यदा यदा हि धर्मस्य ग्लानिर्भवति भारत ।
अभ्युत्थानमधर्मस्य तदात्मानं सृजाम्यहम् ॥७॥
yadā yadā hi dharmasya glāniḥ
bhavati bhārata ।
abhyutthānam adharmasya tadā
ātmānam sṛjāmi aham ॥ 7 ॥
“Sempre
e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de
Bharata, e uma ascensão predominante da irreligião – aí, então, Eu próprio faço
Meu advento.”
Assim, a cada descida, Śrī Viṣṇu ensina uma lição diferente, relacionada
com os motivos que levaram o Homem ao declínio naquele período, nas diferentes
yugas (eras): satya (a era de ouro), treta (a era de fogo), dvāpara (a era da
dúvida) e kali (a era do revés). Posteriormente teremos um texto falando sobre
as yugas, especificamente.
De diversas listas dos daśāvatāras
(dez principais encarnações de Śrī Viṣṇu), pode-se destacar abaixo a mais
famosa:
1. Matsya (satya yuga) – o peixe;
2.
Kūrma (satya
yuga) – a tartaruga;
3.
Varāha (satya
yuga) – o javali;
4.
Nṛsiṃha (satya yuga)
– o homem-leão;
5.
Vāmana (tretā yuga) – o anão;
6.
Paraśurāma (tretā yuga) – o brāhmaṇa-kṣatriya;
7.
Rāma (tretā yuga) – o rei virtuoso;
8.
Kṛṣṇa (dvāpara yuga) – o Todo-Atraente, que
dispensa apresentações;
9.
A. Balarāma (dvāpara yuga) – poderoso guerreiro,
irmão de Śrī Kṛṣṇa
9. B. Buddha (kali yuga) – dependendo da tradição
estudada, considera-se Gautama
Śākyamuni como uma das encarnações do Senhor Viṣṇu;
10.Kalki (kali yuga)
– uma encarnação futura, que descerá ao nosso plano ao final da presente era,
marcando o retorno cíclico à satya yuga.
Uma das muitas listas dos daśāvatāras de Śrī Viṣṇu. |
Assim, Śrī Viṣṇu é Aquele que tudo
permeia. É a bondade, o fluxo da vida, o desenrolar da criação, a
personificação da Suprema Līlā (passatempo, jogo) de criar e recriar, infinitamente.
Invocações
mântricas
श्री विष्णु
śrī
viṣṇu
गायत्री
gāyatrī
gāyatrī
ॐ नारायणाय विद्महे
वासुदेवाय धीमहि ।
तन्नो विष्णुः प्रचोदयात्
॥
oṃ nārāyaṇāya vidmahe
vāsudevāya dhīmahi ।
tanno viṣṇuḥ pracodayāt ॥
“Contemplamos
Aquele que repousa sobre as águas da criação,
Meditamos
n’Aquele que é o Senhor de Todos os Seres.
Reverenciamo-nos
ao Onipenetrante, para que nos ilumine com sabedoria.”
द्वादशनो महामन्त्र
dvādaśano mahāmantra (“grande mantra de doze
sílabas”)
ॐ नमो भगवते वासुदेवाय
oṃ namo bhagavate vāsudevāya
Reverências
ao Senhor Supremo, Senhor de todos os seres.
Os
mantras serão aprofundados em nossa aula de língua sânscrita aplicada ao mantrayoga, que acontece por volta das
20h, antes dos rituais.
Nossos satsaṅga com Ayahuasca à Śrī Viṣṇu e acontece no próximos sábado, dia 11/11, no Templo Polimata de Campinas e dia 18/11 no Templo Polimata de Mairiporã, a partir das 19h.
Ingressos antecipados no site da Ordem Polimata.
Todas
as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Viṣṇu!
Minhas
mais humildes, sinceras e profundas reverências,
Yuri
D. Wolf.
ॐ स्नेह एवोत्तरम् ।
ज्योतिरेव मार्गः ॥
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