quarta-feira, 6 de setembro de 2017

ॐ Navarātri - Satsaṅga à Śrī Durgā e Śrī Mahākālī

Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavān!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Durgā e Śrī Śrī Mahākālī!


Śrī Durgā e Śrī Mahākālī.

दसाक्षरिमन्त्र
dasākṣarimantra (mantra de dez sílabas para śrī cāmuṇḍā, o principal do Navarātri)

ॐ ऐं ह्रीं क्लीं चामुण्डायै विच्चे


om aiṃ hrīṃ klīṃ cāmuṇḍāyai vicce


“Reverencio-me Àquela que reúne as Potências e é Mahādevī, Àquela que destrói rapidamente a paixão e a raiva.”

Neste mês de setembro, no Templo Polimata, celebraremos o esplendoroso Navarātri em nosso satsaṅga. Trata-se do festival das nove noites (navarātri, em sânscrito), que simboliza o caminho do aspirante espiritual através da jornada do (auto)conhecimento.

As manifestações femininas são o centro das festividades, uma vez que, de acordo com a tradição hindu, a realização do Absoluto – a suprema consciência desprovida de atributos – se dá a partir do mundo dos atributos – representado pelas deusas, a energia divina da Consciência Universal.

Assim, o processo devocional polimata em honra à Śrī Durgā e Śrī Mahākālī reflete a dissolução das dualidades, pois estas professoras divinas nos ensinam que a mesma força que destrói e ilude é a potência que constrói e liberta, e também a destruição de nossas tendências negativas, onde o triunfo sobre a mente representa a vitória das manifestações divinas face aos demônios da ignorância. 

O desenvolvimento do culto à Devī, o aspecto feminino de Deus, se deu a partir de uma longa transformação de mais de 4.000 anos, através do hinduísmo védico pré-budista – onde os rituais (sacrifícios, austeridades) em si eram mais importantes do que as Deidades – à fase purāṇica pós-budista, quando o processo devocional (bhakti) tornou-se o pilar central da cultura.

Para ilustrar com maior clareza, é importante retratar brevemente o processo de evolução cultural na Índia.

Montando o Cenário

A ideologia brāhmaṇica tem seu primeiro conjunto de obras escritas entre os séculos XII a IX aC, a partir da compilação do Ṛgveda, um texto śruti (“aquilo que foi ouvido”), fundamentado numa tradição oral muito mais antiga, de um conhecimento revelado pelo divino e transmitido, sucessivamente, de mestre para discípulo.

Adicionalmente, Sāmaveda, Yajurveda e Atharvaveda completam o grupo de manuscritos conhecidos como Vedas, que e envolvem os "deuses védicos", em sua maioria identificados com elementos e fenômenos naturais, e apresentam conjuntos de soluções para manusear a realidade sutil a partir de elaborados procedimentos ritualísticos.

Tais obras eram absolutamente complexas e fortaleciam o regime de distanciamento da população face aos assuntos religiosos e à vida espiritual, que dependia do intermédio de sacerdotes (brāhmaṇas) para interagir com o divino, baseando-se no ideário sectário do sistema de castas. De certa forma, tal processo é bastante similar à relação de dependência social, espiritual e material estruturada na Europa durante a Idade Média.

Mais adiante, entre os séculos IX a.C. e I d.C., surgem as Upaniṣads (que pode ser livremente traduzido como a “doutrina esotérica”), obras que tem por base filosófica a busca pelo Absoluto (ātman, brahman), realizando a essência comum em todos, independente da posição social, apresentando novos questionamentos e criando novas movimentações no âmbito religioso.

Paralelamente, há o surgimento do budismo, que emerge como alternativa ao exclusivismo do processo brāhmaṇico, convertendo grande porção de vaiśyas (casta detentora da riqueza material, representada basicamente por comerciantes e agricultores), que buscavam maior autonomia.

Entre os séculos III e XIII d.C., surgem os Purāṇas (“antigos”, em sânscrito), textos smṛti (elaborados com inspiração divina, mas por humanos; são a base da tradição Smarta) que representam o movimento de retomada do hinduísmo face ao budismo. São manuais que envolvem saúde, ciência, astrologia, religião, e que permitem – ainda que superficialmente –  a inclusão social de outras castas no brāhmaṇismo.

No início da era cristã, os Sūtras (“aforismos”) manifestam-se como um gênero literário que trata de diversos assuntos, e que tem como característica principal a condensação da informação no menor espaço textual possível.

Posteriormente, por volta do século V d.C., surge o Tantra, baseado no culto da natureza (śakti), visando a integração do todo, e que desconstrói os conceitos de pureza sectária do brāhmaṇismo, sob a argumentação de que sem compaixão, não há evolução espiritual verdadeira.

Acima, Vedas, Upaniṣads, Purāṇas, Sūtras e Tantra são diferentes gêneros. As ideias presentes em cada gênero fluem em um processo de conexão evolutiva, de amplificação de ideias e conceitos. Portanto, nenhum dos gêneros deve ser menosprezado.

Por fim, devidamente contextualizados, podemos prosseguir fazendo referência à seguinte relação: de um lado, a manifestação masculina de Deus remete à consciência (imanifesto), enquanto sua contraparte feminina, remete à manifestação.

चण्डीपाठः
Caṇḍīpāṭhaḥ, aquela que dilacera pensamentos

Śrī Durgā.
Sobre a aparição primordial de Devī com atributos, destaca-se Śrī Durgā (“inacessível, invencível”), uma vez que a mesma é inicialmente identificada sozinha, e não como consorte de algum outro deus, com papel secundário. Trata-se do retrato de um desejo de emancipação na vida social feminina da sociedade, processo que ocorre dentro dos cultos e das práticas místicas (principalmente tântricas).

Śrī Durgā tem suas origens nos śabaras, uma sociedade não-letrada de agricultores, oriunda de uma área montanhosa no centro da Índia conhecida como Vindhyaśaila, em uma região limiar entre dois reinos, que criava um impedimento de identificação deste povo com outras culturas.

Com a chegada do processo purāṇico de integração à região, Śrī Durgā foi identificada como uma representação de Śakti (a potência, força, energia Divina). Tal sincretismo permite que o śabaras se identifiquem com a cultura sânscrita e, em contrapartida, firma a cultura sânscrita como provedora da teologia.

Conforme narrado no Devī Māhātmya, ela é invocada primeiramente sob sua forma universal, Śakti, com o papel central do mito de criação do universo.

Assim, o texto começa narrando a história de um rei que perdeu seus poderes para inimigos e fora abandonado por sua família. Este, eventualmente encontra-se com um brāḥmaṇa, que o questiona, pois mesmo desamparado por todos, filhos, família, funcionários, ainda sentia apego a estes.

O sacerdote responde que este apego à família é simplesmente fruto do apego ao desejo de retribuição. Assim é, pois dentro do contexto da renúncia, a família é tão passageira como qualquer outra coisa. Então, prossegue inferindo que o rei kṣatriya passa por um processo de ilusão, que é presidido por Mahāmāyā, aquela pelo qual tudo se origina, que atrai as mentes para a ilusão e que também conduz à libertação. É a “soberana do soberano do Universo”.

Ela, através de seu poder entorpecente, tamas, é o que induz Śrī Mahāviṣṇu a dormir sobre as águas de Kāraṇārṇava, o oceano causal (plano que transcende a manifestação material, a realidade última das tradições vaiṣṇavas), processo que precede a emanação do universo material. Porém, Śrī Śakti é também a yoganidrā de Śrī Viṣṇu: o mesmo poder que o adormece é aquele com a capacidade de acordá-lo, para sustentar o universo material.

Então, o brāḥmaṇa relata o episódio referente à invocação da Deusa por Śrī Brahmā (que reside no lótus que brota do umbigo de Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu), quando este se vê em apuros face a dois demônios – Madhu (“mel”), que representa o que é doce e gera apego à vida material, e Kaiṭabha (“espinho”), que representa a dor e aversão, que também enredam a alma no saṃsāra (ciclo de nascimentos e mortes).

Os demônios surgem dos ouvidos de Śrī Viṣṇu, enquanto este repousa em Śeṣanāga, a grande serpente, antes mesmo da criação do universo. A partir de lindas oblações, Śrī Brahmā clama à Śrī Ādiśakti (o poder supremo), como a soberana do Universo, para que desperte Śrī Bhagavān e permita que ele mesmo seja salvo para manifestar o Universo.

“Tu és Svāhā! Tu és a oblação! Tu és a exclamação Vaṣat! És a essência da linguagem! Tu és o néctar! Tu estás nos três tempos da sílaba eterna! |54| Mesmo eterna, tu estás no meio tempo, que soa indistintamente. Tu és a própria Sāvitrī, tu és a suprema deusa mãe. |55| Por ti tudo isto se sustenta. Por ti este mundo é criado. Por ti é protegido, ó Deusa, e no final é sempre destruído! |56| Com a forma criadora na origem, com a forma sustentadora na proteção, e com a forma destruidora no final deste mundo, ó mayā do mundo! |57| A grande sabedoria, a mahāmāyā, a grande inteligência, a grande memória, a grande inconsciência, tu és a Grande Deusa, a grande soberana! |58| Tu és a prakṛti, e tens o poder total sobre os três guṇa. Tu és a noite dos tempos, tu és a grande noite, és a violenta noite da inconsciência! |59| Tu és Śrī, Īśvarī, tu és a modéstia, tu és a consciência caracterizada pela cognição. Tu és a vergonha, tu és a opulência, assim como a alegria, a tranquilidade e a paciência!  |60|”
Devī Māhātmya
Versos 54-60, traduzidos por João C. B. Gonçalves.

É através deste profundo clamor que a Deusa é colocada como superior à Trimurti (trindade Brahmā-Viṣṇu-Śiva), embasando a tradição Śakta, que coloca Śakti (a Deusa) como a figura central do panteão hindu.

Ela então se manifesta, acordando Śrī Jagannātha (um dos muitos nomes de Śrī Viṣṇu). Este, luta por cinco mil anos com os demônios, enquanto Śrī Mahāmāyā os entorpecia em ilusão. Iludibirados, os demônios se colocam numa falsa posição divina e perguntam a Śrī Viṣṇu qual benção Ele deseja, que responde que sua dádiva é a morte de ambos através de sua providência, finalmente aniquilando-os.

Mais adiante, ainda no Devī Māhātmya, Śrī Devī manifesta-se para combater um novo desequilíbrio dhármico, provocado por Mahiṣāsura, o demônio-búfalo que representa o egoísmo e a ignorância, que derrotou o rei dos devas, o Senhor Indra, e usurpou o controle do plano divino.

Assim, Indra e os demais devas recorreram aos senhores supremos do Universo, a Trimurti, que prontamente invocam Ādi Paraśakti, a Suprema Devī, sob a forma de Śrī Durgā – que recebe então não somente as armas da trindade suprema, como também de Indra, Agni, Varuṇa, Sūrya e Yama e dos demais Devas – deuses do céu, fogo, água, sol e morte, respectivamente. Por fim, é presenteada com um leão por Himavat – a personificação dos Himālayas. Assim, Śrī Durgā desce à Terra e derrota Mahiṣāsura e seu exército após difícil batalha.

Subsequentemente, Śrī Durgā é invocada a partir de Śrī Pārvatī (consorte de Śrī Śiva), novamente para enfrentar os asuras (demônios) Śumbha e Niśumbha, que representam, respectivamente, a vaidade e a autodepreciação, e que, devido à prática de severas austeridades, também haviam alcançado grandes poderes, concedidos por Śrī Brahmā.

Devido à sua Suprema beleza de Devī, Śumbha e Niśumbha tentaram conquistá-La. Porém, foram advertidos pela Mesma que Ela só se entregaria a quem pudesse vencê-La em batalha. Os irmãos, tão poderosos, não acreditaram que uma mulher poderia se impor desta maneira e enviaram um exército para trazê-la à força. Sob sua forma colérica, Śrī Caṇḍī, aniquilou a todos pela entoação do bīja (semente mântrica) “ हुं ” (huṃ) e por seu leão.

Enfurecidos, os supremos asuras enviaram dois de seus generais, Cānda e Muṇḍa, que representam a paixão e a ira, respectivamente. Quando chegaram para enfrentar Śrī Caṇḍī, Esta se enfureceu, proporcionando a manifestação de Śrī Kālī, conforme descrito no Devī Māhātmya:

"Das sobrancelhas de sua testa brotou imediatamente Kālī, com sua face assustadora, carregando espada e laço. Ela portava um estranho bastão coroado por um crânio e tinha uma guirlanda de cabeças humanas, estava envolta em uma pele de tigre, e parecia horrorosa com sua pele macilenta, sua boca escancarada, aterrorizando com sua língua para fora, com olhos afundados e vermelhos, e uma boca que enchia os quatro cantos com rugidos."

Com grande violência e sem qualquer dificuldade, Śrī Kālī decapita Cānda e Muṇḍa, que lhe dá o título de Cāmuṇḍā, elevando-a ao nível de uma mātṛkā (Divina Mãe).

Enfurecidos, Śumbha e Niśumbha decidem por enviar seus serviçais mais poderosos, incluindo o demônio Raktabīja – cujo nome significa “semente de sangue” – , famoso asura que tinha o poder de multiplicar-se para cada gota de sangue sua que tocasse o solo.  Para derrota-lo, Śrī Kālī bebe o sangue das feridas abertas antes que este chegasse ao chão.

Neste momento, os Deuses que assistiam à batalha enviam suas śaktis personificadas (potências femininas), as aṣṭamātṛkās (oito deusas-mãe):

·      Brāhmaṇī (Śrī Brahmā);
·      Māheśvarī (Śrī Māheśvara, um dos nomes do Senhor Śiva);
·      Ambikā (ou Kaumārī, śakti de Śrī Kārtikeya, deus da guerra);
·      Vaiṣṇavī (Śrī Viṣṇu);
·      Indrāṇī (Indra);
·      Vārāhī (o javali, Śrī Varāha, terceiro avatāra de Śrī Viṣṇu);
·      Cāmuṇḍā (Śrī Kālī, conforme exposta acima, que já se encontrava no campo de batalha);
·      Nṛsiṃhī (Śrī Nṛsiṃha).

Finalmente, Śumbha e Niśumbha decidem enfrentar pessoalmente a situação e partem para a batalha. São aniquilados por Śrī Caṇḍī e o Dharma é restaurado no cosmos.

Assim, Śrī Durgā é um conjunto supremo de qualidades, cujos atributos vêm de diferentes Devas. Eles são partes, Ela é inteira. Assim, não é filha de um deva em específico, mas filha de todos. É ayonija, não nascida do ventre, sem mãe. Isso a estabelece como Mahādevī, a Deusa dos deuses. É, assim como o Senhor Śiva e o Senhor Viṣṇu, svayambhū (auto-existente).

कृष्णमातृ
Kṛṣṇamātṛ, a mãe escura

Śrī Kālī.

Já o "conceito de Kālī" é mais antigo do que o nome e a figura que conhecemos atualmente. Na região do vale do rio Sarasvatī, há registros de um conceito de conflito da dualidade entre o selvagem e o domado há mais de 4.000 anos.

Nos textos védicos, enxergamos referências de
Śrī Kālī em Nirṛti – "aquela que destrói ṛti”, os ritmos usuais da natureza. É a ancestral deusa escura como carvão e descabelada que personifica o desconforto da humanidade diante da face obscura da Natureza.

Ligada à direção do sul, menos auspiciosa, tradicionalmente identificada com Yama, deus da morte, é indicada como uma das versões “primitivas” de Śrī Kālī, que possui uma representação registrada posteriormente como Dakṣiṇakālī  (que pode ser livremente traduzido como “a que vem do sul”).

Referências sobre Sua origem também foram registradas nas Upaniṣads e relacionam-Na uma das sete línguas de Śrī Agni, deus do fogo, que atua nos campos de cremação.

O Liṅga e o Skanda Purāṇas relatam o episódio em que Śrī Śiva pede pela intervenção de Śrī Pārvatī para matar um demônio, Daruka, que só poderia ser derrotado por uma mulher. Assim, Ela entra no corpo do Senhor Mahādeva, ingerindo um veneno que repousava em sua garganta e transforma-se em Bhadrakālī (literalmente, “Boa Kālī”). Após sua vitória, ainda intoxicada com o veneno e todo o sangue consumido, a Senhora da Escuridão teve de ser acalmada por seu Companheiro, que se coloca sob seus pés, conforme conhecida iconografia.

No śaktismo tântrico, é Ādimahāvidyā, a deidade presidente de um grupo de dez deusas, expansões de sua Natureza Última, e que representam diferentes aspectos da sabedoria divina, Daśamahāvidyā (algo como “as dez faces do grande conhecimento”):

Daśamahāvidyās. 

·    Kālī: O Brahman Supremo, nirguṇa (que transcende qualidades e formas), o implacável tempo, que tudo devora;
·      Tārā: aquela que guia através das dificuldades;
·      Tripura Sundarī: a amável senhora dos três mundos;
·      Bhuvaneśvarī: a mãe suprema cujo corpo é o próprio Cosmos;
·      Chhinnamastā: a deusa que se auto-decapita (que alimenta e elimina o ego);
·      Bhairavī: a deusa feroz das muitas formas;
·      Dhūmāvatī: a viúva inauspiciosa, a pobreza personificada;
·      Bhagalamukī: paralisadora de inimigos, que detém o poder da palavra;
·      Mātaṅgī: aquela que não possui casta, acessível aos “sujos”;
·      Kamalā: a auspiciosa deusa do lótus – Śrī Lakṣmī.

Todavia, o mistério de Śrī Kālī simultaneamente transcende e envolve todas as diferentes visões sobre sua origem.

No macrocosmos, Mahākālī é a potência feminina do tempo (kāla), que move o universo manifesto e tudo devora, e que ensina ao sādhaka (caminhante espiritual) que é somente o medo da morte o que o faz mortal. No microcosmos do corpo humano, é kuṇḍalinī śakti, a essência do alento prāṇico que dá vida à matéria, e que conecta o sādhaka à sua verdadeira natureza transcendental.

Como Dakṣiṇakālī, controla da maré de destruição que varre toda a existência, em um ato de puro discernimento divino, e que prepara o terreno para a toda a auspiciosidade trazida pela benevolente Bhadrakālī, aquela que destrói para criar através do Amor Divino, sobre o cadáver (śava) de Śrī Śiva.

A Escura Mãe (“Dark Mother”, como é popularmente conhecida em inglês) é a eterna energia da evolução, cujas ações gradualmente manifestam as possibilidades divinas. Demonstra que as sucessivas mortes são o caminho para a imortalidade, e que sua escuridão é o momento que precede a aurora.

Implacável e destemida, é Cāmuṇḍā, a guerreira invencível, a noite personificada. Sua nudez reflete a própria Natureza em sua essência primordial, livre de qualquer ilusão e apego. É a dissolução da dualidade entre a mais elevada forma de luz, personificando o verdadeiro Dharma, e a mais absoluta escuridão, de onde tudo emana e onde tudo se dissolve.

As cinquenta e duas cabeças em sua guirlanda representam as letras do alfabeto sânscrito, simbolizando sua sabedoria e onipotência, que reside em sua identificação mútua como parāśakti, a mais elevada potência criativa divina, que manifesta o universo em sua totalidade, e parāvāk, a mais elevada palavra divina, fonte de toda a linguagem universal.

Seu cinto de braços humanos decepados é o símbolo da ação do karman, pois é ela quem abençoa seus devotos cortando-os do ciclo de nascimentos e mortes (. A espada ensanguentada é a força da Compreensão Divina que corta a ignorância (o ego humano distorcido), representada pela cabeça decepada.  As mudrās emanam seus principais atributos, varada (a benevolência) e abhaya (o destemor).

A morada de Śrī Kālī é śmāsana (os campos de cremação), onde ela dança e a manifestação se dissolve. Lá também são dissipados os medos e apegos, a ira, a luxúria, os mais profundos sentimentos que enredam a alma aos grilhões da avidyā (“o conhecimento espiritual equivocado”). Śmāsana está no coração de seu devoto, que lá queima suas limitações e sua ignorância, sob a outorga da Grande Mãe Divina.

Ela se põe sobre o corpo de seu consorte pois sua refulgência coloca-o como o potencial passivo da criação. Śrī Kālikā é ninguém menos do que Śakti, a universal força feminina criadora, ativa. É a letra “i” no nome de Śrī Śiva, o que o diferencia de śava, um corpo sem vida.

Śrī Śmāsanakālī.

Invocações mântricas para o ritual:

श्रीदुर्गा
Śrī Durgā

गायत्री  
gāyatrī (métrica de 24 sílabas, usualmente utilizada na invocação das Deidades)

कत्यायिन्यै विद्महे
कान्यकुमार्यै धीमहि ।
तन्नो दुर्गा प्रचोदयात् ॥

oṃ katyāyinyai vidmahe
kānyakumāryai dhīmahi
tanno durgā pracodayāt

“Contemplamos Aquela que é filha da perfeição,
Meditamos na Menina Pura.
Reverenciamo-nos à Inaccessível, para que nos ilumine com sabedoria.”

बीजमन्त्र
bījamantra (contém a sílaba mística raiz da Deidade – para ser repetido 108 vezes na contagem da japamālā)

दुं दुर्गायै नमः

oṃ duṃ durgāyai namaḥ

Reverencio-me à Inacessível, à Invencível.


श्रीमहाकाली
Śrī Mahākālī

गायत्री  
gāyatrī

ॐ कालिकायै विद्महे
श्मशानवासिन्यै धीमहि ।
तन्नो काली प्रचोदयात् ॥

oṃ mahākālyai ca vidmahe
śmaśānavāsinyai ca dhīmahi
tanno kālī pracodayāt

“Contemplamos Aquela que é o tempo e a escuridão
Meditamos n’Aquela que reside nos crematórios
Reverenciamo-nos Àquela que possui cor escura / que devora tudo como o tempo, para que nos ilumine com sabedoria.”

दक्षिणकालिका बीजमन्त्र
dakṣiṇakālikā bījamantra

ॐ क्रीं क्रीं क्रीं हूं हूं ह्रीं ह्रीं दक्षिणे कालिके ।
क्रीं क्रीं क्रीं हूं हूं ह्रीं ह्रीं स्वाहा ॥

oṃ krīṃ krīṃ krīm hūṃ hūṃ hrīm hrīm dakṣiṇē kālike
krīṃ krīṃ krīṃ hūṃ hūṃ hrīṃ hrīṃ svāhā

“Aquela que move o corpo sutil à Infinita Perfeição e além, corte-me o ego!
Ofereço minhas oblações à Mãe que dissolve a escuridão através da Potência Divina,  que move o corpo sutil à Infinita Perfeição e além, corte-me o ego!”*

* Tradução interpretativa baseada em uma ótica 

Os mantras serão aprofundados em nossa aula de língua sânscrita aplicada ao mantrayoga, que acontece por volta das 20h, antes dos rituais.

Nossos satsaṅgas com Ayahuasca à Śrī Durgā e Śrī Mahākālī acontecem nos próximos sábados, dia 09/09, no Templo Polimata em Campinas e dia 16/09  no Templo Polimata de Mairiporã, a partir das 19h.

Siga a programação no evento do Facebook: Mairiporã e Campinas.

Ingressos antecipados no site da Ordem Polimata.

Todas as Glórias à śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!

Todas as Glórias à 
Śrī Śrī Durgā e Śrī Śrī Mahākālī!

Minhas mais humildes, sinceras e profundas reverências,
                                                                                      
Yuri D. Wolf

 स्नेह एवोत्तरम् 
ज्योतिरेव मार्गः  

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