quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

ॐ Mahāśivarātri 2019 - Satsańgas à Śrī Śiva e Śrī Pārvatī


Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārājācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavan!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Pārvatī!
Todas as Glórias à Śrī Śiva!

No mês de fevereiro, nos Templos Polimatas de Boituva (02/02), Mairiporã (09/02) e Campinas (22 a 24/02), celebraremos em nossos Satsaṅgas com Ayahuasca, a Mahāśivarātri, a Grande Noite do Auspicioso (Śrī Śiva).

Śrī Śiva e Śrī Pārvatī: Viśvayamala  o casal cósmico.

O objetivo principal do festival é o direcionamento da mente junto à essência divina d’Aquele que tem a chave para a transcendência do ego e para a liberação espiritual, em função das virtudes do sacrifício, da compaixão e da devoção.

É um período de breve intervalo entre a destruição e a criação. A partir de um processo de profunda introspecção, nos oferece a honra de contemplar, junto à misericórdia do Senhor Śiva, os motivos de nossa decadência. Identificando, pois, tanto o que precisa ser erradicado de nossos corações, como as virtudes necessárias para que possamos alcançar mokṣa – a liberação última.

As principais atividades da celebração incluem o jejum, o abhiṣeka (banho dhármico) de śivaliṅgas (que representam a consciência de Śrī Śiva despersonificada, desprovida de atributos), e a vigília durante toda a madrugada em meditação junto à entonação do Pañcākṣarīmantra – o mantra das cinco sílabas sagradas: auṃ namaḥ śivāya –, juntamente à pūjā, ofertando itens como:

-       pasta kumkum: usada nas tilakas (marcas nas testas dos devotos, conhecidas também como bindus), e que representa as virtudes buscadas;
-       frutas: representam a longevidade e a concessão dos desejos;
-       incensos: purificação e riqueza;
-       lamparinas (ou combustível como azeite ou ghī): obtenção do conhecimento;
-       folhas de Bael (marmeleiro-da-Índia): purificação da alma.

Tradicional abhiṣeka das śivaliṅgas no Lalibaba Āśrāma, na cidade de Vārāṇasī.

A data em questão está profundamente ligada aos ciclos lunares, considerando a absoluta importância de Candra, um dos muitos nomes da Lua, para nosso planeta. Controla, por exemplo as marés e os ciclos de fertilidade; e assim, consequentemente, os processos emocionais de nosso planeta.

Em todos os meses, a décima quarta noite do calendário lunissolar hindu é chamada de Śivarātri – em sânscrito, a “noite do Senhor Śiva”, ou a “noite auspiciosa” – a noite mais escura do mês.

É assim identificada devido ao ciclo descensional da Lua, que diminui nos catorze dias conseguintes à Lua Cheia, até mostrar-se apenas como um delicado traço no firmamento, durante sua fase minguante.

Dentro da cultura védica, a Lua é considerada a representação da alma em interação com a matéria, considerando que a mesma não emite luz própria, mas sim o reflexo da luz de Sūrya (o Sol). Consequentemente, é também a Deidade que governa a mente humana, representando o ego.

Desta forma, a força da simbologia yóguica das Śivarātris encontra-se no dia do mês em que a Lua exerce menor influência sobre os processos emocionais no planeta, a Caturdaśī. É o apogeu do ciclo descendente face ao materialismo, com forte atração ascendente para a unidade divina, que revela as distorções do ego diante da realidade.

Sendo assim, durante o Phālguna (mês equivalente ao período que varia entre fevereiro e março, no calendário gregoriano), temos o último Caturdaśī do inverno, que remete a um processo ainda maior de profunda reflexão. Destarte, nesta noite é celebrada a Mahāśivarātri, a “Grande Noite do Senhor Śiva” ou a “Grande Noite Auspiciosa”.

Esta importante data do calendário hindu também remete à união de Śrī Śiva e Śrī Pārvatī, que formam o casal que representa o equilíbrio cósmico entre o consciência e a manifestação.

Dentre as muitas versões para esta līlā (passatempo celestial), a história deste casal divino começa com o casamento de Śrī Śiva com Śrī Satī (cujo nome remete à Verdade Suprema, em sânscrito), primeira encarnação de Śrī Śakti Devī, a potência feminina absoluta universal.

Śrī Śakti  encarna como a Senhora Satī, uma princesas devota de Śrī Śiva, com a missão de desposá-lo, trazendo-o de volta de seu profundo estado meditativo. Tinha por objetivo gerar com ele um ser capaz de derrotar o demônio Tārakāsura, que vinha gerando um desequilíbrio dhármico a partir de seus grandes poderes, oriundos de uma bênção concedida por Śrī Brahmā, após uma série de sacrifícios.

Ela é também conhecida como Dākṣāyaṇi, “filha de Dakṣa”. Este, por sua vez, foi um famoso governante, filho de Śrī Brahmā, e responsável pela procriação humana neste plano, a partir da criação de seu pai.

Śrī Satī, então, assume sua responsabilidade dhármica e se coloca aos pés de Śrī Śiva como sua serva, renunciando à vida de riqueza. Seus esforços são reconhecidos quando Śrī Mahādeva questiona sua pretendente sobre o que ela busca nele, um asceta que nada tem a oferecer, e ela responde que nada deseja, a não ser ele próprio.

Entretanto, Dakṣa, que era conhecido por sua arrogância, não aprova o casamento de sua filha mais nova junto a um eremita, alguém que não vivia de acordo com as normas sociais da época.

Agindo através de seu falso ego, Dakṣa anunciou um grande yajña (sacrifício ritualizado), convidando toda a criação, exceto sua filha e seu companheiro. Ao tomar conhecimento deste fato viloso, Śrī Satī é envolvida por uma grande ansiedade, que a conduz direto ao palácio do pai.

Ao chegar na corte, deparou-se com sábios, deuses e demais seres elevados reunidos junto ao fogo sagrado do yajña. Notou, porém, que ninguém parecia se importar com sua presença. Discutiu calorosamente com seu pai Dakṣa e compreendeu que o ritual objetivava a difamação da figura divina de Śrī Śiva.

Tomada pela vergonha da desonra de ter um pai com a mentalidade tão limitada, orou para que, num futuro nascimento, fosse abençoada com um pai que ela pudesse respeitar. Assim, atira-se no fogo, suicidando-se. Furioso e desolado, Śrī Śiva pune severamente todos os envolvidos e se isola no topo do monte Kailāsa, nos Himalayas.

Tal processo de reclusão do Auspicioso Senhor se fez uma brecha muito oportuna à Tārakāsura, que intensifica seu litígio de terror.

Assim, o processo de aproximação de Śrī Śakti Devī junto ao Senhor Śiva toma uma nova direção, seguindo a lógica da constante transformação que ela representa.

Novamente, a Grande Mãe encarna. Desta vez, em uma família dedicada ao serviço devocional para Śrī Śiva, nasce como filha do rei Himavat (a personificação dos Himalayas) e da rainha Mena, com o nome de Pārvatī, a “Senhora da Montanha”.

Desde muito nova, Śrī Pārvatī dedicava-se intensamente ao serviço devocional de Śrī Śiva. Quando um pouco mais velha, sentia que seu objetivo era alcançar os pés de lótus do Senhor como sua esposa. Todavia, Śrī Mahādeva ainda encontrava-se em profunda meditação e não percebia os esforços da jovem Śakti encarnada.

Receosos com o crescente poder de Tārakāsura, os Devas enviam Śrī Kāmadeva (o deus do “amor sensual”) para ajudar Śrī Pārvatī através de suas flechas do desejo. Todavia, Śrī Kāma não obtém sucesso e ainda acaba sendo pulverizado por Śrī Tryambaka através de seu terceiro olho. A tentativa de conquista mal sucedida afasta ainda mais Śrī Śakti Devī de seu amado.

Depois de diversas tentativas relacionadas à conquista amorosa, Śrī Pārvatī realiza, com a ajuda de Nārada Muni, que o caminho para os pés de lótus de Śrī Śiva é o processo devocional ascético. Assim, abandona sua vida de conforto e riqueza e passa a realizar uma série de duríssimos tapas (sacrifícios yóguicos), superando os mais avançados ascetas da época, tomando para si o controle de seu corpo e sua mente, elevando-se ao padrão de seu amado.

As austeridades executadas por Śrī Annapūrṇa (outro dos muitos nomes de Śrī Pārvatī, que remete à abundância) geraram um volume descomunal de energia e calor, que alcançam Śrī Mahādeva e o despertam. Impressionado com os feitos de sua pretendente, este imediatamente a aceita como sua consorte. Casaram-se numa magnífica celebração, que é lembrada anualmente até os dias de hoje, na Mahāśivarātri.

Assim, uma das interpretações da união contada acima, é que esta representa a importância do equilíbrio entre Śiva (consciência) e Śakti (matéria/manifestação) dentro do caminhar espiritual.

Outra versão bastante popular contida nos Purāṇas elucida o motivo pelo qual a vigília é parte primordial das atividades da Mahāśivarātri.

Esta é conhecida como Samudra Mathana (a “Agitação do Oceano”) e envolve uma disputa entre Devas e Asuras em um processo similar à agitação do leite para a obtenção de manteiga. Todos reuniram-se junto ao Oceano Causal (feito de leite, em seu estado mais puro) com o objetivo de obter amṛta (néctar da imortalidade, um subproduto do processo de agitação do leite, em analogia à manteiga).

Para tal, era necessário agitar o Oceano, utilizando o Monte Mandāra como haste e Śrī Vāsuki Naga, o Rei das Serpentes, como corda. Diversas ervas foram adicionadas à mistura e então diversos subprodutos emergiram do Oceano Causal, incluindo um poderosíssimo veneno capaz de destruir toda a Criação.

Com o objetivo de prevenir uma possível desgraça, clamaram pela misericórdia do Senhor da Destruição, Śrī Śiva. Ele prontamente bebeu e veneno que, por provisão de Śrī Pārvatī, ficou retido em sua garganta. Tamanha a potência do veneno, tingiu sua garganta de azul, o que lhe conferiu o nome de Nīlakantha (Aquele que possui a garganta azul).

Como parte do processo de cura, Śrī Śiva deveria não poderia dormir naquela noite. Assim, todos se concentraram no processo de devocional Àquele que, em um gesto de sacrifício e pura benevolência, havia salvado toda a Criação, estabelecendo a Mahāśivarātri.

Altar sacrificial de um Mahāmṛtyunjaya Homam, ritual do fogo realizado durante a madrugada da
Mahāśivarātri em vigília.
Assim, Śrī Śiva (“o Auspicioso”, em sânscrito) representa a transcendência do ser, a renúncia à vida material da qual floresce o espírito livre do sādhaka (o caminhante espiritual). Śrī Pārvatī personifica o processo da consciência em constante transformação,  que por meio da manifestação (śakti, a potência da consciência) se eleva pelo amor, pelo trabalho e pelo dharma, retornando ao Infinito.

Śrī Ardhanārīsvara, Deidade andrógina que representa a fusão de
Śrī Śiva e Śrī Pārvatī: consciência e o poder da consciência.

Invocações mântricas para o ritual:
गायत्री
gāyatrī (métrica védica de 24 sílabas, usualmente utilizada na invocação das Deidades)

ॐ तत् पुरुषाय विध्महे
महदेवाय धीमहि
तन्नो रुद्रः प्रचोदयात्

auṃ tat puruṣāya vidhmahe
mahadevāya dhīmahi
tanno rudraḥ pracodayāt

Contemplamos a o Ser Primordial,
Meditamos no Grande Deus.
Reverenciamo-nos ao Uivador, para que nos ilumine com sabedoria.

महामृत्युंजय मन्त्र​
mahāmṛtyuṃjaya mantra (mantra da grande superação da morte)

ॐ त्र्यम्बकं यजामहे सुगन्धिं पुष्टिवर्धनम्
उर्वारुकमिव बन्धनान्मृत्योर्मुक्षीय मामृतात्

auṃ tryambakam yajāmahe sugandhim puṣṭi-vardhanam
urvāru-kamiva bandhanān mṛtyor-mukṣīya māmṛitāt

Reverenciamo-nos ao Senhor de Três Olhos, cuja fragrância alimenta e nutre todos os seres.
Como o pepino amadurecido – com a intervenção do jardineiro – é liberado de seu cativeiro, que Ele possa nos liberar da morte, guiando-nos à imortalidade.

पञ्चाक्षरीमन्त्र
pañcākṣarīmantra (mantra das cinco sílabas sagradas)

॥ॐ नमः शिवाय॥

auṃ namaḥ śivāya

Reverências ao Auspicioso.

Nossos Satsaṅgas com Ayahuasca à Śrī Śiva e Śrī Pārvatī acontece nos sábados de fevereiro, a partir das 19h.

Siga a programação através da Agenda Polimata e no site da OrdemPolimata.

Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārājācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Pārvatī!
Todas as Glórias à Śrī Śiva!

Minhas mais humildes, sinceras e profundas reverências,
                                                                                                                   
Yuri D. Wolf.
सङ्कटमोचन