Todas as
Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as
Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as
Glórias à Śrī Bhagavan!
Todas as
Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as
Glórias à Śrī Śrī Durgā e
à Śrī Śrī Mahākālī!
दसाक्षरिमन्त्र
dasākṣarimantra
(mantra de dez sílabas para Śrī Cāmuṇḍā, o principal do Navarātri)
ॐ ऐं ह्रीं क्लीं चामुण्डायै विच्चे
om aiṃ hrīṃ klīṃ cāmuṇḍāyai vicce
“Reverencio-me Àquela que reúne as Potências e
é Mahādevī, Àquela que destrói rapidamente a paixão e a raiva.”
Śrī Durgā e Śrī Kālī. |
Neste mês de setembro, nos Templos Polimata de Boituva, Mairiporã e Campinas,
celebraremos o esplendoroso Navarātri em nosso Satsaṅga. Trata-se do festival das nove
noites (nava, nove; rātri noite, em sânscrito), que simboliza o caminho do
aspirante espiritual através da jornada do (auto)conhecimento.
As manifestações femininas são o centro das
festividades, uma vez que, de acordo com a tradição hindu, a realização do
Absoluto – a suprema consciência desprovida de atributos – se dá a partir do
mundo dos atributos – representado pelas deusas, a energia divina da Consciência Universal.
O desenvolvimento do culto à Devī, o
aspecto feminino de Deus, se deu a partir de uma longa transformação de mais de
4.000 anos, através do hinduísmo védico pré-budista – onde os rituais
(sacrifícios, austeridades) em si eram mais importantes do que as Deidades – à
fase purāṇica pós-budista, quando o processo devocional (bhakti) tornou-se o pilar central da cultura.
Para ilustrar com maior clareza, é
importante retratar brevemente o processo de evolução cultural na Índia.
Montando o cenário
A ideologia brāhmaṇica tem seu
primeiro conjunto de obras escritas entre os séculos XII a IX aC, a partir da
compilação do Ṛgveda, um texto śruti
(“aquilo que foi ouvido”), fundamentado numa tradição oral muito mais antiga,
de um conhecimento revelado pelo divino e transmitido, sucessivamente, de mestre
para discípulo.
Adicionalmente, Sāmaveda, Yajurveda
e Atharvaveda completam o grupo de manuscritos conhecidos como Vedas, que e
envolvem os "deuses védicos", em sua maioria identificados com elementos
e fenômenos naturais – como o ar, o fogo e a tempestade, por exemplo –, e apresentam
conjuntos de soluções para manusear a realidade sutil a partir de elaborados
procedimentos ritualísticos.
Tais obras são absolutamente
complexas e fortaleciam o regime de distanciamento da população face aos
assuntos religiosos e à vida espiritual, que dependia do intermédio de
sacerdotes (brāhmaṇas) para interagir
com o divino, baseando-se no ideário sectário do sistema de castas. De certa
forma, tal processo é bastante similar à relação de dependência social, espiritual
e material estruturada na Europa durante a Idade Média.
Mais adiante, entre os séculos IX a.C.
e I d.C., surgem as Upaniṣads (termo que pode ser livremente traduzido como a
“doutrina esotérica”), obras que tem por base filosófica a busca pelo Absoluto
(ātman, brahman), realizando a essência comum em todos, independente da posição
social, apresentando novos questionamentos e criando novas movimentações no
âmbito religioso.
Paralelamente, há o surgimento do
budismo, que emerge como alternativa ao exclusivismo do processo brāhmaṇico, convertendo grande porção de
vaiśyas (casta detentora da riqueza
material, representada basicamente por comerciantes e agricultores), que
buscavam maior autonomia.
Entre os séculos III e XIII d.C.,
surgem os Purāṇas (“antigos”, em sânscrito), textos smṛti (elaborados com inspiração divina, mas estruturados pela
mente humana; são a base da tradição Smarta) que representam o movimento de
retomada do hinduísmo face ao budismo. São manuais que envolvem saúde, ciência,
astrologia, religião, e que permitem – ainda que superficialmente – a inclusão social de outras castas no
brāhmaṇismo.
No início da era cristã, os Sūtras
(“aforismos”) manifestam-se como um gênero literário que trata de diversos
assuntos, e que tem como característica principal a condensação da informação
no menor espaço textual possível.
Posteriormente, por volta do século
V d.C., surge o Tantra, baseado no culto da natureza (śakti), visando a integração do todo, e que desconstrói os conceitos
de pureza sectária do brāhmaṇismo,
sob a argumentação de que sem compaixão, não há evolução espiritual verdadeira.
Acima, Vedas, Upaniṣads, Purāṇas,
Sūtras e Tantra são diferentes gêneros. As ideias presentes em cada gênero
fluem em um processo de conexão evolutiva, de amplificação de ideias e
conceitos. Portanto, nenhum dos gêneros deve ser menosprezado.
Por fim, devidamente
contextualizados, podemos prosseguir fazendo referência à seguinte relação: de
um lado, a manifestação masculina de Deus remete à consciência (imanifesto),
enquanto sua contraparte feminina, remete à manifestação.
चण्डीपाठः
Caṇḍīpāṭhaḥ, aquela que
dilacera pensamentos
Śrī Durgā. |
Sobre a aparição primordial de Devī
com atributos, destaca-se Śrī Durgā (“inacessível, invencível”), uma vez que a
mesma é inicialmente identificada sozinha, e não como consorte de algum outro
deus, com papel secundário. Trata-se do retrato de um desejo de emancipação na
vida social feminina da sociedade, processo que ocorre dentro dos cultos e das
práticas místicas (principalmente tântricas).
Śrī Durgā tem suas origens nos śabaras, uma sociedade não-letrada de
agricultores, oriunda de uma área montanhosa no centro da Índia conhecida como
Vindhyaśaila, em uma região limiar entre dois reinos, que criava um impedimento
de identificação deste povo com outras culturas.
Com a chegada do processo purāṇico
de integração à região, Śrī Durgā foi identificada como uma representação de
Śakti (potência, força, energia Divina). Tal sincretismo permite que o śabaras se identifiquem com a cultura
sânscrita e, em contrapartida, firma a cultura sânscrita como provedora da teologia.
Conforme narrado no Devī Māhātmya, ela
é invocada primeiramente sob sua forma universal, Śakti, com o papel central do
mito de criação do universo.
Assim, o texto começa narrando a história de um rei que perdeu seus poderes para inimigos e fora abandonado por sua família. Este, eventualmente encontra-se com um brāḥmaṇa, que o questiona, pois mesmo desamparado por todos, filhos, família, funcionários, ainda encontrava-se apegado aos mesmos.
O sacerdote indica que este apego à
família é simplesmente fruto do apego ao desejo de retribuição. Assim é, pois
dentro do contexto da renúncia, a família é tão passageira como qualquer outra
coisa. Então, prossegue inferindo que o rei kṣatriya
passa por um processo de ilusão, que é presidido por Mahāmāyā, aquela pelo qual
tudo se origina, que atrai as mentes para a ilusão e que também conduz à
libertação. É a “soberana do soberano do Universo”.
Ela, através de seu poder
entorpecente (tamas), é o que induz
Śrī Mahāviṣṇu a dormir sobre as águas de Kāraṇārṇava, o oceano causal (plano
que transcende a manifestação material, a realidade última das tradições vaiṣṇavas), processo que precede a
emanação do universo material. Porém, Śrī Śakti é também a yoganidrā de Śrī Viṣṇu: o mesmo poder que o adormece é aquele com a
capacidade de acordá-lo, para sustentar o universo material.
Então, o brāḥmaṇa relata o episódio referente à invocação da Deusa por Śrī
Brahmā (que reside no lótus que brota do umbigo de Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu),
quando este se vê em apuros face a dois demônios – Madhu (“mel”), que
representa o que é doce e gera apego à vida material, e Kaiṭabha (“espinho”),
que representa a dor e aversão, que também enredam a alma no saṃsāra (ciclo de nascimentos e
mortes).
Os demônios surgem dos ouvidos de
Śrī Viṣṇu, enquanto este repousa em Śeṣanāga, a grande serpente, antes mesmo
da criação do universo. A partir de lindas oblações, Śrī Brahmā clama à Śrī Ādiśakti (o poder supremo), como a soberana do Universo, para que desperte
Śrī Bhagavan (“o venerável”) salvando-o da desgraça, para manifestar o
Universo.
Conforme
descrito no Devī Māhātmya, versos 54-60, traduzidos por João C. B. Gonçalves.
“Tu és Svāhā!
Tu és a oblação! Tu és a exclamação Vaṣat! És a essência da linguagem! Tu és o
néctar! Tu estás nos três tempos da sílaba eterna!|54| Mesmo eterna, tu estás
no meio tempo, que soa indistintamente. Tu és a própria Sāvitrī, tu és a
suprema deusa mãe| Por ti tudo isto se sustenta. Por ti este mundo é criado.
Por ti é protegido, ó Deusa, e no final é sempre destruído!|56| Com a forma
criadora na origem, com a forma sustentadora na proteção, e com a forma
destruidora no final deste mundo, ó mayā do mundo!|57| A grande sabedoria, a
mahāmāyā, a grande inteligência, a grande memória, a grande inconsciência, tu
és a Grande Deusa, a grande soberana148!|58| Tu és a prakṛti, e tens o poder
total sobre os três guṇa. Tu és a noite dos tempos, tu és a grande noite, és a
violenta noite da inconsciência!|59| Tu és Śrī, Īśvarī, tu és a modéstia, tu és a consciência caracterizada pela
cognição. Tu és a vergonha, tu és a opulência, assim como a alegria, a tranquilidade
e a paciência! |60|”
É através deste
profundo clamor que a Deusa é colocada como superior à Trimurti (trindade
Brahmā-Viṣṇu-Śiva), embasando a tradição Śakta, que coloca Śakti (a Deusa) como
a figura central do panteão hindu.
Ela então se manifesta, acordando Śrī Jagannātha (“o Senhor do Universo”, um dos muitos nomes de Śrī Viṣṇu). Este, luta por cinco mil anos com os demônios, enquanto Śrī Mahāmāyā os entorpecia em ilusão. Ludibriados, os demônios se colocam numa falsa posição divina, superior à própria consciência absoluta ali representada por Aquele que tudo permeia (Śrī Viṣṇu) e perguntam-no qual benção Ele deseja. O mesmo responde que sua dádiva é a morte de ambos através de sua providência, finalmente aniquilando-os.
Mais adiante, ainda no Devī
Māhātmya, Śrī Devī manifesta-se para combater um novo desequilíbrio dhármico, provocado
por Mahiṣāsura, o demônio-búfalo que representa o egoísmo e a ignorância, que derrotou
o rei dos devas, o Senhor Indra, e
usurpou o controle do plano celestial.
Assim, o Śrī
Indra e os demais
devas recorreram aos senhores
supremos do Universo, a Trimurti, que prontamente invocam Ādi Paraśakti, a Suprema Devī, sob a forma de
Śrī Durgā – que recebe então não somente as armas da trindade suprema, como
também as aparelhas de Indra, Agni, Varuṇa, Sūrya e Yama e dos demais Devas – deuses do céu, fogo, água, sol e morte,
respectivamente. Por fim, é presenteada com um leão por Himavat – a personificação
dos Himālayas. Assim, Śrī Durgā desce à Terra e derrota Mahiṣāsura e seu
exército após sangrenta batalha.
Subsequentemente, Śrī Durgā é
invocada a partir de Śrī Pārvatī (consorte de Śrī Śiva), novamente para enfrentar
os asuras (demônios) Śumbha e
Niśumbha, que representam, respectivamente, a vaidade e a autodepreciação, e que,
devido à prática de severas austeridades, também haviam alcançado grandes
poderes, concedidos por Śrī Brahmā.
Devido à sua Suprema beleza de Devī,
Śumbha e Niśumbha tentaram conquistá-La. Porém, foram advertidos pela Mesma que
Ela só se entregaria a quem pudesse vencê-La em batalha. Os irmãos, tão
poderosos, não acreditaram que uma mulher poderia se impor desta maneira e
enviaram um exército para trazê-la à força. Sob sua forma colérica, Śrī Caṇḍī,
aniquilou a todos pela entoação do bīja
(semente mântrica) “ हुं ” (huṃ) e por seu leão.
Enfurecidos, os supremos asuras enviaram dois de seus generais, Cānda
e Muṇḍa, que personificam a paixão e a ira, respectivamente. Quando chegaram
para enfrentar Śrī Caṇḍī, Esta se enfureceu, proporcionando a manifestação de Śrī Kālī, conforme descrito no Devī Māhātmya:
"Das sobrancelhas de sua testa
brotou imediatamente Kālī, com sua face assustadora, carregando espada e laço.
Ela portava um estranho bastão coroado por um crânio e tinha uma guirlanda de
cabeças humanas, estava envolta em uma pele de tigre, e parecia horrorosa com
sua pele macilenta, sua boca escancarada, aterrorizando com sua língua para
fora, com olhos afundados e vermelhos, e uma boca que enchia os quatro cantos
com rugidos."
Com grande violência e sem qualquer
dificuldade, Śrī Kālī decapita Cānda e Muṇḍa, que lhe
dá o título de Cāmuṇḍā, elevando-a ao nível de uma mātṛkā (Divina Mãe).
Enfurecidos, Śumbha e Niśumbha
decidem por enviar seus serviçais mais poderosos, incluindo o demônio Raktabīja
– cujo nome significa “semente de sangue” – , famoso asura que tinha o poder de multiplicar-se para cada gota de sangue
sua que tocasse o solo. Para derrota-lo,
Śrī Kālī bebe o sangue das feridas
abertas antes que este chegasse ao chão.
Neste momento, os Deuses que
assistiam à batalha enviam suas śaktis personificadas (potências femininas), as aṣṭamātṛkās (oito deusas-mãe):
· Brāhmaṇī (Śrī Brahmā);
· Māheśvarī (Śrī Māheśvara, um dos nomes do Senhor Śiva);
· Ambikā (ou Kaumārī, śakti de Śrī Kārtikeya, deus da guerra);
· Vaiṣṇavī (Śrī Viṣṇu);
· Indrāṇī (Indra);
· Vārāhī (o javali, Śrī Varāha, terceiro avatāra de Śrī
Viṣṇu);
· Cāmuṇḍā (Śrī Kālī, conforme exposta acima, que já se
encontrava no campo de batalha);
· Nṛsiṃhī (Śrī Nṛsiṃha).
Finalmente, Śumbha e Niśumbha
decidem enfrentar pessoalmente a situação e partem para a batalha. São
aniquilados por Śrī Caṇḍī e o Dharma é restaurado no cosmos.
Assim, Śrī Durgā é um conjunto
supremo de qualidades, cujos atributos vêm de diferentes Devas. Eles são partes,
Ela é inteira. Assim, não é filha de um deva
em específico, mas filha de todos. É ayonija,
não-nascida do ventre, sem mãe. Isso a estabelece como Mahādevī, a Deusa dos deuses.
É, assim como o Senhor Śiva e o Senhor Viṣṇu, svayambhū (auto-existente).
कृष्णमातृ
Kṛṣṇamātṛ, a mãe escura
Śrī Kālī. |
Já o "conceito de Kālī" é
mais antigo do que o nome e a figura que conhecemos atualmente. Na região do
vale do já extinto rio Sarasvatī, há registros
de um conceito de conflito da dualidade entre o selvagem e o domado há mais de
4.000 anos.
Nos textos védicos, enxergamos referências de Śrī Kālī em Nirṛti – "aquela que destrói ṛti”, os ritmos usuais da natureza. É a ancestral deusa escura como carvão e descabelada que personifica o desconforto da humanidade diante da face obscura da Natureza.
Ligada à direção do sul, menos
auspiciosa, tradicionalmente identificada com Yama, deus da morte, é indicada como
uma das versões “primitivas” de Śrī Kālī, que possui uma representação registrada
posteriormente como Dakṣiṇakālī (que
pode ser livremente traduzido como “a que vem do sul”).
Referências sobre Sua origem também
foram registradas nas Upaniṣads e relacionam-Na uma das sete línguas de Śrī Agni,
deus do fogo, que atua nos campos de cremação.
O Liṅga e o Skanda Purāṇas relatam o
episódio em que Śrī Śiva pede pela intervenção de Śrī Pārvatī para matar um
demônio, Daruka, que só poderia ser derrotado por uma mulher. Assim, Ela entra
no corpo do Senhor Mahādeva, ingerindo um veneno que repousava em sua garganta
e transforma-se em Bhadrakālī (literalmente, “Boa Kālī”). Após sua vitória,
ainda intoxicada com o veneno e todo o sangue consumido, a Senhora da Escuridão
teve de ser acalmada por seu Companheiro, que se coloca sob seus pés, conforme
conhecida iconografia.
No śaktismo tântrico, é Ādimahāvidyā, a deidade presidente de um grupo de dez deusas, expansões de sua
Natureza Última, e que representam diferentes aspectos da sabedoria divina, Daśamahāvidyā (algo como “as dez faces do grande conhecimento”):
· Kālī: O Brahman Supremo, nirguṇa (que transcende qualidades e
formas), o implacável tempo, que tudo devora;
· Tārā: aquela que guia através das
dificuldades;
· Tripura Sundarī: a amável senhora
dos três mundos;
· Bhuvaneśvarī: a mãe suprema cujo corpo é o próprio Cosmos;
· Chhinnamastā: a deusa que se
auto-decapita (que alimenta e elimina o ego);
· Bhairavī: a deusa feroz das muitas
formas;
· Dhūmāvatī: a viúva inauspiciosa, a
pobreza personificada;
· Bagalamukī: paralisadora de
inimigos, que detém o poder da palavra;
· Mātaṅgī: aquela que não possui
casta, acessível aos “sujos”;
· Kamalā: a auspiciosa deusa do lótus
– Śrī Lakṣmī.
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Todavia, o mistério de Śrī Kālī simultaneamente
transcende e envolve todas as diferentes visões sobre sua origem.
No macrocosmos, Mahākālī é a potência
feminina do tempo (kāla), que move o
universo manifesto e tudo devora, e que ensina ao sādhaka (caminhante espiritual) que é somente o medo da morte o
que o faz mortal. No microcosmos do corpo humano, é kuṇḍalinī śakti, a essência do alento prāṇico que dá vida à matéria, e que conecta o sādhaka à sua verdadeira natureza
transcendental.
Como Dakṣiṇakālī, controla a maré de
destruição que varre toda a existência, em um ato de puro discernimento divino,
e que prepara o terreno para a toda a auspiciosidade trazida pela benevolente Bhadrakālī,
aquela que destrói para criar através do Amor Divino, sobre o cadáver (śava) de Śrī Śiva.
A Escura Mãe (“Dark Mother”, como é popularmente conhecida em inglês) é a eterna
energia da evolução, cujas ações gradualmente manifestam as possibilidades
divinas. Demonstra que as sucessivas mortes são o caminho para a imortalidade,
e que sua escuridão é o momento que precede a aurora.
Implacável e destemida, é Cāmuṇḍā, a
guerreira invencível, a noite personificada. Sua nudez reflete a própria
Natureza em sua essência primordial, livre de qualquer ilusão e apego. É a dissolução
da dualidade entre a mais elevada forma de luz, personificando o verdadeiro Dharma,
e a mais absoluta escuridão, de onde tudo emana e onde tudo se dissolve.
As cinquenta e duas cabeças em sua
guirlanda representam as letras do alfabeto sânscrito, simbolizando sua sabedoria
e onipotência, que reside em sua identificação mútua como Parāśakti, a mais elevada potência criativa divina, que manifesta o
universo em sua totalidade, e Parāvāk,
a mais elevada palavra divina, fonte de toda a linguagem universal.
Seu cinto de braços humanos
decepados é o símbolo da ação do karman,
pois é ela quem abençoa seus devotos cortando-os do ciclo de nascimentos e
mortes. A espada ensanguentada é a força da Compreensão Divina que corta a ignorância
(o ego humano distorcido), representada pela cabeça decepada. As mudrās
emanam seus principais atributos, varada
(a benevolência) e abhaya (o destemor).
A morada de Śrī Kālī é śmāsana (o campo de cremação), onde ela
dança e a manifestação se dissolve. Lá também são dissipados os medos e apegos,
a ira, a luxúria, os mais profundos sentimentos que enredam a alma aos grilhões
da avidyā (“o conhecimento espiritual
equivocado”). Śmāsana está no coração
de seu devoto, que lá queima suas limitações e sua ignorância, sob a outorga da
Grande Mãe Divina.
Ela se põe sobre o corpo de seu consorte
pois sua refulgência coloca-o como o potencial passivo da criação. Śrī Kālikā é ninguém menos do que Śakti, a universal força feminina
criadora, ativa. É a letra “i” no nome de Śrī Śiva, o que o diferencia de śava, um corpo sem
vida.
Assim, o processo devocional
polimata em honra à Śrī Durgā e Śrī Mahākālī reflete a dissolução das
dualidades – pois ensinam que a mesma força que destrói e ilude é a potência
que constrói e liberta – e a destruição de nossas tendências negativas, onde o
triunfo sobre a mente representa a vitória das manifestações divinas face aos
demônios da ignorância.
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Invocações mântricas para o ritual:
श्रीदुर्गा
śrī
durgā
गायत्री
gāyatrī (métrica de 24 sílabas, usualmente utilizada na invocação das Deidades)
gāyatrī (métrica de 24 sílabas, usualmente utilizada na invocação das Deidades)
ॐ कत्यायिन्यै विद्महे
कान्यकुमार्यै धीमहि ।
तन्नो दुर्गा प्रचोदयात् ॥
oṃ
katyāyinyai vidmahe
kānyakumāryai
dhīmahi ।
tanno
durgā pracodayāt ॥
“Contemplamos Aquela que é filha da perfeição,
Meditamos na Menina Pura.
Reverenciamo-nos à Inaccessível, para que nos ilumine com
sabedoria.”
बीजमन्त्र
bījamantra (contém a sílaba mística raiz da Deidade – para ser repetido 108 vezes na contagem da japamālā)
bījamantra (contém a sílaba mística raiz da Deidade – para ser repetido 108 vezes na contagem da japamālā)
ॐ दुं दुर्गायै नमः
oṃ duṃ
durgāyai namaḥ
Reverencio-me à Inacessível, à Invencível.
श्रीमहाकाली
śrī
mahākālī
गायत्री
gāyatrī
gāyatrī
ॐ कालिकायै विद्महे
श्मशानवासिन्यै धीमहि ।
तन्नो काली प्रचोदयात् ॥
तन्नो काली प्रचोदयात् ॥
oṃ mahā-kālyai
ca vidmahe
śmaśāna-vāsinyai
ca dhīmahi ।
tanno
kālī pracodayāt ॥
“Contemplamos Aquela que é o tempo e a escuridão
Meditamos n’Aquela que reside nos crematórios
Reverenciamo-nos Àquela que possui cor escura / que devora tudo
como o tempo, para que nos ilumine com sabedoria.”
दक्षिणकालिका बीजमन्त्र
dakṣiṇakālikā
bījamantra
ॐ क्रीं क्रीं क्रीं हूं हूं ह्रीं ह्रीं दक्षिणे कालिके ।
क्रीं क्रीं क्रीं हूं हूं ह्रीं ह्रीं स्वाहा ॥
oṃ krīṃ
krīṃ krīm hūṃ hūṃ hrīm hrīm dakṣiṇē kālike
krīṃ krīṃ
krīṃ hūṃ hūṃ hrīṃ hrīṃ svāhā
“Aquela que move o corpo sutil à
Infinita Perfeição e além, corte-me o ego!
Ofereço minhas oblações à Mãe que
dissolve a escuridão através da Potência Divina, que move o corpo sutil à Infinita Perfeição e
além, corte-me o ego!”
Os mantras
serão aprofundados em nossa aula de língua sânscrita aplicada ao mantrayoga,
que acontece por volta das 20h, antes dos rituais.
Nossos satsaṅgas com Ayahuasca à Śrī Durgā e Śrī Mahākālī acontecem nos próximos sábados, dia 08/09,no Templo Polimata de Boituva, no dia 15/09 no Templo Polimata de Mairiporã, e dia 22/09 no Templo Polimata de Campinas, a partir das 19h.
Siga a
programação no Facebook da Agenda Polimata.
Ingressos antecipados no site da Ordem Polimata.
Todas as
Glórias à Śrī Guru
Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Durgā e à Śrī Śrī Mahākālī!
Minhas mais
humildes, sinceras e profundas reverências,
Yuri D. Wolf
सङ्कटमोचन